Desabafo emocionado de atleta após eliminação em Tóquio viraliza
Altobeli Silva lamentou perda e questionou se vale a pena tanto esforço e sacrifício
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
O discurso emocionado do atleta brasileiro Altobeli Silva, durante as Olímpiadas 2021, em Tóquio, chamou atenção de todo Brasil. Ele terminou em 10º lugar nas eliminatórias dos 3.000 metros com obstáculos e desabafou sobre o resultado.
"Estou me sentindo muito mal. Chateado, porque eu sei o quanto treinei, o quanto batalhei, o quanto abri mão. É uma frustração muito grande, porque quando você não treina, não se dedica, vai para festinha, é uma coisa. Mas, quando você abre mão de tudo isso, se isola, espera um ótimo resultado e acontece o que aconteceu, eu sinceramente fico sem entender. Minha vontade é de chorar, porque treinei pra caramba. Treinei muito para estar aqui", disse em entrevista.
Não faz muito tempo, Altobeli publicou um vídeo reclamando sobre a postura de outros atletas brasileiros na Vila Olímpica, porque eles ouviam, diariamente, som alto, madrugada adentro.
Altobeli demonstrou estar chateado por ter tocado num obstáculo enquanto acompanhava o primeiro pelotão. Isso colaborou para que ele perdesse ritmo. "Não sei o que aconteceu, porque endureci minhas pernas. Fiz os melhores treinos da minha vida! No Rio 2016, fui finalista e não treinava o que treinava agora. Me dediquei pra caramba! É uma decepção muito grande. A ponto de você analisar, será que isso vale a pena? Se dedicar tanto...", prosseguiu.
O atleta também se comparou com os outros participantes. "Se desse certo ficar um período lá na Europa, seria excelente. É uma ideia para essa molecada promissora que está vindo aí, que tem condição de vir para uma Olimpíada. Porque os caras sempre mantêm um alto nível, o que esses caras fazem de diferente? Por que eles sempre estão acertando as provas?"
Diferentes investimentos
Muitas pessoas, depois desse discurso, passaram a questionar se o valor que o Brasil destina para o esporte é justo, se está sendo bem investido, se há igualdade de patrocínios, entre outros pontos.
De fato, há nações que priorizam o esporte mais que nós, sobretudo quando se fala em tecnologia e treinos. E não apenas nisso. Nos Estados Unidos, por exemplo, o esporte recebe muitos incentivos fiscais do governo. É valorizado por ser considerado uma parte importante na cultura do país.
Conheci muitas pessoas que tiveram a oportunidade de cursar uma faculdade lá por conta das diferentes bolsas de estudo disponíveis para estudantes atletas interessados em uma formação acadêmica.
O perigo da comparação
Apesar das críticas e ainda que não haja tanto incentivo, os atletas brasileiros, das mais diferentes modalidades, emocionam a população. Diante da ligação do povo com o esporte há sim a necessidade de se discutir o futuro do Brasil nessa área. Precisamos valorizar mais os nossos atletas. Mas, ao mesmo tempo, não podemos depender apenas disso.
Você, assim como eu, já deve ter passado por situações em que a valorização não veio como se esperava. Isso pode acontecer em diferentes áreas, no trabalho, com parentes, no casamento, com amizades, na criação dos filhos etc.
Mas, a ausência de qualquer tipo de incentivo, seja ele financeiro ou emocional, não pode nos fazer desistir. É claro que não é nada fácil seguir em frente enquanto se sente as dores de uma perda, de um problema, de uma situação difícil. Porém, é necessário vencer os sentimentos negativos, afinal, eles não podem definir nossas atitudes.
Altobeli tem um currículo belíssimo. Em 2019, conquistou a medalha de prata nos 500 metros nos Jogos Pan-Americanos, em Lima, no Peru. Nos 3.000 metros com obstáculos, ganhou a medalha de ouro. E, neste ano, assim como ele, outros atletas se prepararam muito para as Olímpiadas e também não conquistaram a posição almejada.
A diferença entre os que foram eliminados é o que eles vão fazer com essa informação, daqui para frente. Se lamentar e desistir ou seguir lutando pelos sonhos, apesar dos obstáculos? Uma decisão simples que definirá o resultado final.
O autor e professor de riscos da Universidade de Nova York, Nassim Nicholas Taleb, fez uma análise muito importante a respeito dos momentos difíceis que todos passarão na vida, cedo ou tarde. Taleb explica que não devemos ser apenas resilientes, mas "antifrágeis", termo criado por ele para designar a condição de se tornar melhor após cada dificuldade ou golpe sofrido.
O professor defende que sem os problemas, as incertezas e as dificuldades é impossível desenvolver essa característica "antifrágil". Dessa forma, para poder crescer, seja na vida pessoal ou profissional, é necessário aprender a passar pelo caos, e sair ainda mais forte dele.
"A dificuldade é o que desperta o gênio" - Nassim Nicholas Taleb.
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